Num tempo de playlists e, em que, novos sons e artistas se sobrepõem em catadupa, numa constante luta pelos poucos minutos de atenção disponíveis para cada um, o novo álbum de David Fonseca – Radio Gemini – emerge enquanto peça única que justifica um audição “à antiga”. São 60 minutos de verdadeira criação artística, que deverão, necessariamente, ser ouvidos integralmente e sem interrupções!
Dotado desde sempre de uma fina ironia (a forma como sempre se colocou na Pop sem ser “Pop”) e até laivos de anti vedeta (ou será timidez?), David consegue apresentar-nos nesta emissão de tudo um pouco, desde jingles e pequenos interlúdios, a fortíssimos singles radiofónicos, num (muito raro nos dias que correm) total de 21 faixas.
A maturidade artística que David (sim, é verdade, está a cumprir 20 anos de carreira!) apresenta nesta sua “emissão de Radio” permite afirmar que, em termos criativos, este é, até ao momento, o seu melhor álbum.
Esta é uma emissão de Viagens, faixa a faixa, minuto a minuto, David vai percorrendo as influências e referências que foi acumulando ao longo dos anos, onde se nota o apego aos sintetizadores clássicos, a canções pop redondas e onde impera a procura da perfeição, mas também a vontade de experimentar, de inovar e, sobretudo, de construir uma sonoridade sempre diferente, mas sempre, sua.
Não é um álbum de baladas, não é um álbum Pop, não é um álbum de música alternativa. É uma emissão de rádio (futurística a reutilizar o melhor do passado) onde David tanto apresenta “Oh My Heart”, muito provavelmente a sua mais forte canção de sempre (e que, caso David fosse de outra nacionalidade podia estar nos tops mundiais de Verão), como apresenta uma faixa de Hip Hop, “Anyone can do it”, um dueto com Alice Wonder (que David conheceu via Instagram) em “Resist” ou uma mais ou menos incisiva crítica às canções Pop em “Blah-blah-blah”.
Será um clássico daqui a alguns anos. Para já, será provavelmente ouvido por poucos para além dos singles, o que, infelizmente, retirará algum do reconhecimento imediato que merecia enquanto álbum.