O criador de um dos álbuns que certamente constará de todas as listas de melhor do ano, respondeu a algumas perguntas do Ecletismo Musical. Apaixonado pela reinvenção da música portuguesa, Stereossauro criou em “Bairro da Ponte”: “O ALBUM” de mistura entre o Hip Hop, o Fado e a Eectrónica. Marco histórico na música portuguesa aqui devidamente registado e celebrado.
EM: Em “Bairro da Ponte” a tradição beija a modernidade numa mescla entre sonoridades modernas e palavras com história. Quando começaste há uns anos a pegar em samples de Fado e a mixar com eletrónica e hip-hop já antevias vir a fazer um álbum como este?
Stereossauro: Sim, sonhava em fazer algo neste sentido, mas se calhar não com esta dimensão. O disco ficou muito melhor que o que eu poderia ter imaginado.
EM: Como foi o teu processo criativo? Ouviste muitas vezes os originais e pegaste em samples e depois construíste os temas? Tinhas linhas melódicas na cabeça?
Stereossauro: Tenho várias abordagens diferentes, muitas vezes passa por ouvir os originais à procura de samples e experimentação com esse samples, mas também toco vários instrumentos. Há guitarra em quase todas as músicas do disco, por exemplo. Cada caso é um caso e acaba por não haver uma fórmula.
EM: Em “Flor de Maracujá” fazes como que um poker. Amália, Capicua, Camané e a eletrónica. Podemos dizer que é a definição perfeita do que representa este “Bairro da Ponte” e os seus 19 temas? Como achas que seria a reação da Amália se pudesse ouvir o teu trabalho?
Stereossauro: Prefiro não pensar nisso, é algo que nunca saberei e pronto. Vi várias entrevistas em que Amália manifestava uma opinião a favor da mudança e de experimentação na música, mas não vale a pena tentar adivinhar o que pensaria deste disco, vale a pena pensar que bom seria se a tivesse conhecido em vida.
EM: Em “Depressa Demais” ou “Vento” assumes o processo criativo no seu todo e crias inclusivamente as palavras com que duas das maiores representantes da contemporaneidade do Fado (Ana Moura e Gisela João) se apresentam ao mundo. Em jeito de provocação, pretendes como que vir a criar um subgénero de Fado escrito por ti?
Stereossauro: É um grande desafio e gostava de voltar a fazê-lo, cada vez mais quero fazer canções.
EM: Pegando no que é afirmado sobre a “Verde Anos” do Carlos Paredes ser a “música mais portuguesa que existe” e tendo em conta que a mesma nem sequer tem voz, consideras que o destino tão presente na lírica do Fado pode ser contrariado simplesmente por guitarras e bits/pratos que falam?
Stereossauro: A palavra é de uma importância vital para a definição de um povo. A língua em que falamos e cantamos tem a sua musicalidade própria, agora se é uma pessoa a cantar ou um sample num gira-discos, isso é apenas o “meio”. Já a música instrumental tem um aspecto muito interessante, apesar de ser algo mais abstracto, pode ser entendido por toda a gente no mundo todo. Não acho que uma coisa invalide a outra, são só pontos de vista diferentes.
EM: De onde veio o “Strereossauro”? Consideras-te um dinossauro na estereofonia eletrónica?
Stereossauro: Não, é apenas um jogo de palavras, e gosto de dinossauros.
EM: Desde os campeonatos com o DJ Ride (Beatbombers) até aos mash ups de Hip Hop consegues eleger uma arte maior no teu percurso?
Stereossauro: A pergunta é se gosto mais de ser DJ ou Produtor? Gosto das duas coisas!
EM: A propósito, qual consideras ser o «estado d’arte» da música feita em Portugal?
Stereossauro: Está bem e recomenda-se!
EM: Que nomes colocavas no teu “Festival Ideal”? (Vivos ou não)
Stereossauro: Bob Marley, Post Malone, Ramones, Beastie Boys, Wu Tang Clan.
EM: Se tivesses que identificar os 5 melhores álbuns de sempre, qual era a tua escolha? E porquê?
Stereossauro:
Dj Shadow – Entroducing
J Dilla – Donuts
Beatis Boys – ill comunication
Rage Against the Machine – Rage Against the Machine
Kanye West – College Drop Out
Porque são discos de que gosto muito e foram importantes para mim.
EM: Depois do concerto no Lux, o disco será para apresentar ao vivo pelo País? Existem datas?
Stereossauro: Foi muito bom, estava esgotado e não podia ter corrido melhor. Vou estar no NOS Alive dia 11 de julho e há várias outras datas marcadas mas que ainda não posso anunciar.
Agradecimento especial:
Maria Escaka (Valentim de Carvalho)