Depois de muitos anos em que o Fado tinha conotações menos positivas, a já de meia idade Democracia Portuguesa, permitiu que a canção nacional deixasse de ser vista apenas como bandeira de uma ideia de um Portugal a cheirar a mofo e que pudesse ser olhado com outros olhos.
Sara Correia é uma jovem cosmopolita que, apesar de ter apenas 25 anos, já tem muitas noites nas Casas de Fado de Lisboa onde se foi fazendo mulher, o que, naturalmente, contribui, e muito, para que a sua voz e interpretação nos remeta para os clássicos, apesar do seu ar jovial e moderno.
Fiquem a conhecer melhor um dos nomes maiores da nova geração do Fado que estará no dia 21 de Fevereiro no Capitólio, em Lisboa.
EM: Podemos dizer que o teu álbum de estreia, traduz-se quase como que num encontro de café entre a “Sara, eterna menina das casas de Fado” e a “Sara contemporânea”, numa mescla de vivências e que resultam no que és hoje enquanto pessoa?
Sara Correia: Tenho muito fado em mim. O fado influenciou-me a ser o que sou hoje, pelo que vivemos nas casas de fado, o seu ambiente e pelas orações que são cantadas. Claro que os fadistas que conheci ao longo da minha vida, e todo este meu envolvimento neste mundo do Fado fizeram de mim a Sara que gosto de ser, esta Sara que hoje é mais madura, que luta pelos seus sonhos, sempre verdadeira e com emoções que sobram.
EM: Sentes que a Casa de Fado será sempre o teu conforto, o teu porto de abrigo e que toda esta (nova) exposição e holofotes irão transformar o teu Destino para sempre? Como te sentes a lidar com esta nova fase da tua vida?
Sara Correia: As casas de fado são muito importantes para um fadista. É um local obrigatório, pois é onde se desenvolve e se cresce, tenho ditos muitas vezes que é a Igreja dos fadistas. Mas não se compara, ao cantar pelo mundo e cantar com a minha equipa, é um verdadeiro sonho.
Estou muito feliz por poder fazer o que gosto e estou bastante curiosa para saber como vai ser daqui em diante. Uma coisa sei, sei que darei sempre o que tiver no coração.
EM: Quando decides abrir a cappella o teu álbum de estreia, homónimo, com “Fado Português” popularizado por Amália Rodrigues, pretendeste apresentar desde logo ao que vinhas e colocar a fasquia bem alta?
Sara Correia: É uma grande responsabilidade cantar a D. Amália Rodrigues, e desde pequena que a canto, a minha admiração é enorme. O fado Português é um dos meus fados favoritos e sempre tive o sonho de o gravar, e gravei. A fasquia é sempre alta quando cantamos a Sr. D. Amália.
EM: Sendo tu provavelmente a Fadista da nova geração (com 25 anos, ainda que já com muitos de carreira, ainda terás que entrar nessa categoria) com uma raiz de Fado mais tradicional, sentes a responsabilidade de representares uma Lisboa em vias de extinção ou achas que a globalização (e as influências que traz) não colocam em causa o Fado?
Sara Correia: O fado não muda a sua verdadeira essência, e antes de estar nas fusões, acho que o fado está na voz.
E é bom continuarem a surgir jovens para dar continuidade ao que nos deixaram de tão genuíno – o Fado e não só, pois temos tanto talento em Portugal, tantos poetas, fadistas, músicos que nos deixaram história. Não acho que o fado mude, acho que os tempos são outros e as formas de estar são diferentes. Mas claro que deverá haver sempre respeito pelo fado tradicional.
EM: Inéditos como “Sou a Casa” e “O Meu Bom Ar” são a Sara a mostrar (juntamente com o Diogo Clemente) de que, apesar da alma de fadista clássica, a jovem de 25 anos, não deixa de ser uma jovem e também tem coisas modernas para dizer ao mundo?
Sara Correira: Na verdade, cresci no meio do fado e, sem querer, acabamos por crescer mais rápido com as suas vivências, mas também tenho 25 anos, muita energia e gosto sempre de me superar e fazer coisas novas. Acho que faz parte da idade. E quis transmitir isso nas histórias que gravei no meu disco pois são histórias verdadeiras e acredito que só dessa forma se pode passar o que sentimos realmente.
EM: Consideras que o Fado tem vindo a beneficiar da profunda alteração na imagem e forma de apresentação das fadistas, nomeadamente, no abandono das vestes clássicas e cuidado com a aparência, e que, essa modernidade visual enquadra o Fado na sociedade atual, mais do que desvirtua os seus cânones tradicionais?
Sara Correia: Com o tempo, a forma de “vestir” muda e vai mudando. Tal como no fado, independentemente da roupa que se vista, será sempre como ele é. Gosto muito que se respeite a tradição, mas também entendo que há toda uma geração diferente e é bom haver criatividade.
EM: A propósito, qual consideras ser o «estado d’arte» da música feita em Portugal?
Sara Correia: Temos grandes artistas em Portugal, tenho o prazer de conhecer alguns. Sempre fomos um povo de bom gosto e considero a nossa arte, sem dúvida, muito genuína. E com isto, só temos tendência a crescer cada vez mais, exemplo disso são os grandes álbuns e artistas novos muito talentosos que têm sido lançados nos últimos tempos.
EM: Que nomes colocavas no teu “Festival Ideal”? (Vivos ou não)
Sara Correia: Seria um grande festival na verdade, enumero 5 nomes: Amália Rodrigues, Beatriz da Conceição, o cartaz teria que ter os melhores nomes do Fado! E claro para completar: Amy Winehouse, Frank Sinatra e Concha Buika, iria ser fenomenal, e como são todas completamente diferentes e donas de uma voz soberba, este é o meu cartaz ideal.
EM: Se tivesses que identificar os 5 melhores álbuns de sempre, qual era a tua escolha? E porquê?
Sara Correia: Todos estes álbuns são incríveis e sou uma ouvinte diária dos mesmos. São de um bom gosto, são todos tão diferentes, mas todos tão talentosos na sua arte. Esta pergunta é difícil pois teria muitos mais álbuns para partilhar com vocês!
Frank Sinatra – September of my years
Tito Paris – Luanda
Cartola – Todo o tempo que eu viver
Amy Winehouse – Back
Concha Buika – Em mi piel
EM: Quais são os teus planos para os próximos meses? Por onde irás andar?
Sara Correia: Depois da saída do meu álbum estou numa fase de promoção e em breve sairá a minha agenda de 2019, mas quero partilhar já 1 concerto muito importante, no dia 21 de Fevereiro no Capitólio em Lisboa! Estará tudo nas minhas redes sociais e espero poder contar com vocês nesta viagem!
Agradecimentos Especiais:
Obrigado Sara e estaremos atentos a todo o sucesso que certamente irás ter!
Mariana Morado (Universal Music)
Fotografia Capa: Isabel Pinto