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[Entrevista] Rose Blanket (2011)

[Entrevista] Rose Blanket (2011)
Provando que nem sempre um músico tem que ser um entertainer de massas, Rose Blanket, ou se preferirmos, Miguel Dias e os seus convidados, apresentam um dos melhores álbuns do ano (“Nothing Ahead / Nothing Behind”), um impensável (para os dias que correm), álbum duplo, sem que esteja previsto (por opção) qualquer concerto! Miguel tem um universo criativo muito próprio e, como o mesmo refere na conversa que manteve com o Eclectismo Musical: “A verdade é que o palco nunca foi um espaço confortável para mim, nada funciona, não existe prazer.” Ora, sendo a música pura fruição, enquanto momento de criação, Rose Blanket é o exemplo perfeito de como esse exercício se pode estender a quem chegar a casa, ligar a lareira, encher um copo de vinho e deixar-se levar pela perfeição criativa de Miguel Dias para conhecer melhor aqui:
 
Eclectismo Musical (EM): Os Rose Blanket são o Miguel Dias, ou o Miguel Dias é o Rose Blanket? 
Rose Blanket: De facto Rose Blanket é um projecto marcadamente pessoal, isso é claro, mas não se resume a mim, até porque cada pessoa que colabora e participa em Rose Blanket é convidada a deixar algo de si. Poderei dizer que é um espaço onde tenho a oportunidade de me exprimir de uma forma livre e descomprometida e ainda de partilhá-lo com outras pessoas, músicos e não só. 
EM: Assumindo desde logo que o palco não é o local de eleição dos Rose Blanket (não estão previstos concertos de apresentação do novo álbum), esse é também um manifesto de que a música é apenas pura fruição enquanto momento de criação?
Rose Blanket: É verdade que o processo de criação e construção é o que me motiva nisto tudo. É nisso que eu retiro prazer. Tendo sempre em perspectiva partilhar o(s) resultado(s) final(ais), sem criar expectativas de retorno. 
 

 EM: Atendendo à excelência de «Nothing Ahead/Nothing Behind», não será um pouco um exercício de egoísmo, não o dar a conhecer a mais pessoas, através da divulgação via concertos?

 Rose Blanket: Gostava que não fosse assim entendido. Até porque não coloco qualquer limitação em chegar ao maior número de pessoas possível, sendo aliás esse um claro objectivo pós-criação.

A verdade é que o palco nunca foi um espaço confortável para mim, nada funciona, não existe prazer. Gostava que assim não fosse mas mais importante que isso é assumi-lo. E o facto é que à medida que se foi aproximando a altura de lançar o disco, cada vez era mais evidente que dentro de mim não havia genuinamente a vontade de o apresentar ao vivo. E haver concertos apenas porque é suposto fazê-lo, ou porque permitiria um retorno financeiro importante, não me pareceram motivações a ter em conta.

EM: Voltando ao prazer pelo prazer que a música parece representar, a opção pela edição de um álbum duplo, num momento em que se discute ao segundo o tempo que um disco deverá ter, é também um sinal de infinita indiferença pelos cânones do mercado?
Rose Blanket: Não diria indiferença, porque não seria verdade, mas reivindico a possibilidade de me exprimir livremente. Não estou totalmente alheio ao que se passa, tenho noção do absurdo que a edição de um disco duplo nos dias de hoje e para um projecto pouco conhecido, possa representar, mas foi esse o resultado de um período de 3 anos e não assumi-lo ou ajustar a edição ao que será mais expectável e convencional, seria isso sim uma grande mentira. EM: O novo disco, na linha dos anteriores, apresenta um conjunto de inúmeras colaborações, com principal destaque para as vozes femininas. Como chegam até Rose Blanket, nomes como, Jennifer Charles, Dana Schechter, Petra Pais e principalmente Filipa Caetano?
Rose Blanket: Tinha um conjunto de temas que queria que a voz fosse feita por alguém com quem ainda não tivesse trabalhado e numa perspectiva de uma colaboração totalmente livre, sem qualquer interferência minha ou outro qualquer constrangimento. Foi neste contexto que surgiram as participações da Jennifer Charles e da Dana Schechter, em que obtive os contactos através de uma pessoa amiga e em que depois de enviar os temas, aceitaram sem qualquer problema.
Já a Petra Pais repete a colaboração iniciada em “Our Early Balloons”, o disco anterior, e quanto à Filipa Caetano, inicialmente apenas estava previsto ajudar-me a fazer umas demos das vozes que posteriormente serviriam de guia para uma outra pessoa gravar. Aconteceu que depois de gravar as primeiras demos, fiquei totalmente convencido que não precisava de outra voz. Embora tenha sido quase por acaso, a verdade é que sendo a Filipa a minha companheira e a pessoa que eu amo, acabou por fazer imenso sentido ser ela a voz principal deste disco.
EM: «Nothing Ahead/Nothing Behind» é um álbum duplo, também ele com uma duplicidade de emoções, por um lado apaguizador, perfeito para ouvir à lareira a contemplar a chuva lá fora, por outro lado, inquietante e desafiador na lírica. Foi este o processo de criação?
Rose Blanket: A palavra “duplicidade” que utilizas é muito apropriada para descrever tudo o que se passa à volta de Rose Blanket. É mesmo a palavra exacta para falar de Rose Blanket. E se sinto que essa duplicidade existe e está bem patente na música que faço, é porque certamente essa é uma fonte de criação, embora num processo absolutamente inconsciente.  

 

EM: A propósito, qual consideras ser o «estado d’arte» da música feita em Portugal?
Desculpa se dou um pouco a volta à questão, mas posso dizer que um outro aspecto positivo de andar nisto da música é que acabo por ligar à terra durante um tempo, e assim tomar conhecimento de muita coisa que se vai fazendo e não só em Portugal. É bem possível que se não tivesse editado este disco, não teria conhecido por exemplo PAUS, de quem ouvi recentemente um tema (com vídeo) que achei absolutamente brilhante.
EM: Nos tempos que correm, a Internet é uma ferramenta incontornável. Quais são os canais que utilizas de uma forma mais activa para comunicares com os teus fãs?
Rose Blanket: Rose Blanket tem um site www.roseblanket.net, onde aliás de momento é possível descarregar gratuitamente um conjunto de 7 temas que estão no disco.
Também existe www.myspace.com/roseblanket , criado por altura do disco anterior, mas pelo que tenho visto o myspace está morto e acabado. E estou sempre disponível para dar a conhecer Rose Blanket através de entrevistas como esta.
EM: Que nomes colocavas no teu “Festival Ideal”? (Vivos ou não)
 Rose Blanket: Entre os vivos ou bandas ainda em actividade, tive a sorte de já ter visto ao vivo aqueles que mais admiro, pelo que sendo possível recorrer à ressurreição, escolheria Velvet Underground, Beach Boys, The Beatles, Joy Division e Lhasa de Sela. 
Num Festival de 3 dias, em Belém, dividido entre o CCB, os Jardins de Belém e até o Mosteiro dos Jerónimos (para o concerto de Joy Division) e com uma pequena deslocação para o auditório Alfredo Keil no Monsanto para o concerto final dos Beach Boys.
EM:Se tivesses que identificar os 5 melhores álbuns de sempre, qual era a tua escolha? E porquê?
Rose Blanket: Não sei se serão propriamente os melhores, não pensei sobre isso, mas são aqueles que terei ouvido mais, que não há melhor indicador do que esse.
Nick Cave – Boatman´s Call
Sonic Youth – Daydream Nation
Pixies – Doolittle
Jesus & Mary Chain – Psychocandy
Velvet Underground & Nico
E acrescento uma descoberta recente, o absolutamente maravilhoso Pet Sounds dos Beach Boys.
EM: Quais são os teus planos para os próximos meses? Por onde andarás?
Rose Blanket: Vou andar muito por casa certamente. Sempre com a minha guitarra ao meu lado. E já a pensar num próximo trabalho, agora um pouco mais difícil de concretizar, pois a opção de não realizar concertos saiu bem cara.
Agradecimento Let’s Start a Fire
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