O Ecletismo Musical concretizando mais uma vez o seu Manifesto, apresenta desta vez uma entrevista com Luís Clara Gomes, aka Moullinex, que é, tão somente, um dos melhores produtos de exportação nacional, tendo conquistado os palcos e as pistas de dança um pouco por todo o mundo.
É um artista que reúne duas das principais características para se ser um músico de sucesso: A criatividade e o empreendedorismo/inovação (as editoras Discotexas e Gomma são um bom exemplo disso)! Na entrevista que se segue, será possível ficar a conhecer melhor essas duas facetas deste ex-engenheiro e investigador com os pés bem assentes na terra.
Comprovando mais uma vez o seu espírito inovador, depois de, há um ano, ter feito em Lisboa, uma épica celebração de 24h que marcou a edição do álbum no MAAT, este ano, no dia 31 de Outubro (Halloween), o «Hypersex» de Moullinex regressa a Lisboa no seu formato 360º, numa enorme comemoração no Capitólio.
Uma noite (das 21h às 04h) de concerto de Moullinex com convidados especiais; DJ sets da australiana baseada em Londres HAAi e do seu colega de editora, Xinobi; concerto de MEERA, o mais novo projecto editado pela Discotexas; e uma competição de Ballroom, numa festa que pretende ser uma celebração da Club Culture em todas as suas vertentes sociais, culturais e políticas.
EM: Enquanto estudante de Engenharia de Computadores e Telemática, quando sentiste que a música seria o teu algoritmo? A licenciatura contribuiu para a mistura de sons que apresentas nos teus álbuns?
Moullinex: Acho que a música sempre foi o meu algoritmo, mas precisei de fazer algum reverse engineering para eu próprio me entender. Já quis ser muita coisa, e acabei por seguir um rumo que me liga à tecnologia – o que acabou também por ditar o meu caminho pela música electrónica.
EM: Lisboa foi oficialmente declarada uma das grandes capitais europeias da música electrónica. O que falta para que cada vez se atraia mais publico à mesa de mistura?
Moullinex: Falta que institucionalmente esse papel seja reconhecido. Toda a mediatização internacional da música portuguesa acontece não graças uma estratégia de apoio governamental, mas apesar da ausência de uma. Se tomarmos como exemplo a Escandinávia, uma estratégia de exportação cultural a nível governamental traduz-se directamente no aumento do PIB, para além do capital cultural que isso traz para uma região. A todos devia ser dada uma oportunidade de experimentar fazer o que se gosta: apesar de todo este hype, muitos músicos portugueses só o conseguem ser acumulando outros trabalhos que lhes permitam pagar as contas.
EM: Os mais cépticos acreditam que estilos como o Techno e o Minimal consistem na repetição de sons sem que se acrescente muito entre sets. O que é preciso para que a musica electrónica não se esgote em si mesma? E qual o segredo para se ser diferente num momento em que se assiste ao Boom de novos artistas e produtores?
Moullinex: A linguagem não é mais do que uma repetição de sons que todos conhecemos. Só porque todos falamos a mesma língua, não quer dizer que tenhamos todos a mesma coisa para dizer. Acho que um tema ou um set pode soar “cansado” se se limitar a repetir o que já foi feito. Quem fala com a sua própria voz, com a sua identidade, não corre esse risco.
EM: A propósito, qual consideras ser o «estado d’arte» da música feita em Portugal?
Moullinex: Desenvolvendo um pouco a ideia anterior, vivemos uma altura em que há uma confluência de artistas, público, programadores e media no sentido de valorizar o que é feito cá: só falta, na verdade, o apoio institucional. Numa altura em que o Turismo de Portugal é tão importante, porque não regar o jardim que os turistas vêm visitar?
EM: Como surgiu a inspiração para aliares o nome de uma marca de electrodomésticos à imagem de referência de uma fruta tropical?
Moullinex: Moullinex porque me atraiu desde cedo a electrónica francesa: dos Air aos Daft Punk, estes foram os artistas que me chamaram para as máquinas, e daí o meu tributo. Os ananases nem sei bem explicar, de repente tornaram-se um mito.
EM: O teu ultimo álbum, Hypersex, fala-nos de como a dança e a musica deixam cair as barreiras da diferença e conseguem conectar as pessoas através de uma paixão comum: a música. Quais as fronteiras que ainda precisam ser ultrapassadas para que a música seja cada vez mais uma forma de revolução?
Moullinex: Vão sempre haver fronteiras. Há 40 anos não era possível fazeres-me esta pergunta publicamente. Para cada geração, as conquistas são diferentes. Sinto que a nossa está a viver avanços e retrocessos em simultâneo, e cabe a todos nós lutar por um mundo com espaço para toda a gente.
EM: Perante o público, qual acreditas ser o papel do DJ? Existe alguma diferença na forma como se encara e motiva o público num boiler room ou num festival?
Moullinex: Num boiler room literalmente não se encara o público! Brinco. Para mim, o DJ é um contador de histórias, apenas mais uma peça num momento colectivo. Gosto de pensar num set como uma viagem na qual entramos todos: público e DJ, uma viagem que até pode ter uns desvios da rota original, pois baseia-se num diálogo. E espero que nas melhores noites tenhamos todos saído diferentes dessa viagem.
EM: Já tiveste oportunidade de tocar quase por todo o mundo. Qual o festival que falta na tua lista?
Moullinex: Faltam muitos! Mas sem dúvida, gostava muito de tocar no Montreaux Jazz Festival com a banda.
EM: Que nomes colocava no seu “Festival Ideal”? (Vivos ou não)
Moullinex: Stevie Wonder, Billie Holiday, Prince, James Brown, Michael Jackson, Jimi Hendrix, Queen, Funkadelic.
EM: Se tivesse que identificar os 5 melhores álbuns de sempre, qual era a sua escolha? E porquê?
Moullinex: A resposta a esta pergunta varia consoante o dia! Porque nos álbuns que gosto muito encontro muitas coisas diferentes, vou deixar aqui 5 para que neles encontrem coisas para vocês:
Stevie Wonder – Songs in the Key of Life
Prince – Prince
Daft Punk – Homework
Beach Boys – Pet Sounds
Funkadelic – Maggot Brain
EM: Quais são os teus planos para os próximos meses? Por onde irás andar?
Moullinex: Muitos concertos e DJ sets! Vamos estar em formato banda no MaMA festival em Paris, e terminamos Outubro com a House of Hypersex no Capitólio, uma festa bem adequada ao Halloween e que prometo ser incrível.
Depois, tenho DJ sets pela América latina, desde México a Costa Rica, passando pela República Dominicana, e termino o ano em Londres e Dubai.
Obrigado Moullinex e muito sucesso!
Agradecimento Especial:
Sónia Ramos