Oportunidade desta vez para conhecer melhor os Moons, ou André Travassos, mentor e criador de um dos álbuns que o Ecletismo Musical considerou estar entre os melhores de 2018; (Review Aqui). André Travassos é um dos nomes maiores da cena alternativa de Belo Horizonte que tem vindo a surpreender o Brasil e o Mundo. Fiquem a conhecer:
EM: Olá André, como se chegou até “Thinking Out Loud” (álbum que o EM considerou um dos melhores de 2018)? Qual o percurso dos Moons? Os Moons serão a partir de agora uma banda?
André: O Thinking Out Loud é resultado direto do encontro dessa banda que hoje compõe o Moons. Além de nós seis ainda contou com a participação do nosso antigo tecladista Victor Magalhães e dos amigos Thiakov, Rodrigo Viana, Rodrigo Garcia e do nosso produtor Leonardo Marques. Hoje vivemos uma fase maravilhosa enquanto banda. Tudo esta fluindo de uma maneira muito leve mas não temos como prever o que o futuro nos reserva. Então preferimos viver um dia após o outro.
EM: De onde surge toda a melancolia na sonoridade dos Moons? Existe uma “água” especial em Minas?
André: Deve existir sim (risos). O Moons é uma banda em que todos os integrantes são pessoas que tem uma sensibilidade muito aguçada. E a nossa música sem dúvida é um reflexo disso. Seja harmonicamente ou nas letras. Tratar de temas íntimos e sensíveis é, além de uma paixão uma necessidade nossa. Talvez para aliviar um pouco tudo aquilo que guardamos dentro de nós!
EM: As influências que se notam do folk anglo-saxónico são incontornáveis. Mas igualmente o universo das bandas sonoras de filmes clássicos parece estar muito presente quer na sonoridade, quer na escrita. Esse é sempre o guião condutor para a criação?
André: Sem dúvida! Isso e tudo a nossa volta! Musicalmente falando a gente escuta de tudo um pouco. Claro com predileção para folk, rock, jazz e seus derivados. Mas comportamento também é algo que nos influencia muito. Seja na vida real, ou nas artes através de livros, filmes, teatro, etc. Fato é que gostamos de pensar as músicas de forma muito imagética. Sempre que uma música me emociona eu sou transportado para outro lugar, para uma narrativa que se constrói a medida que a música evolui. Acho que nosso trabalho é meio por ai! Dar asas a imaginação das pessoas através das múltiplas sensações que a música pode provocar em nós.
EM: Pode-se dizer que a sonoridade dos Moons é igualmente uma espécie de Bossa Nova em inglês?
Acho que não! A bossa nova é talvez um ritmo onde o jazz se encontrou com o samba, um ritmo tipicamente brasileiro. No nosso caso as referências brasileiras que temos já são artistas que de alguma forma já beberam na fonte da música americana ou inglesa. Como o Clube da Esquina, Belchior e o rock rural, Os Mutantes e até mesmo Gil e Caetano com seus discos gravados fora do Brasil.
EM: O EM escrevia na review ao álbum “Thinking Out Loud” que: ”existe uma profundidade (ainda que com enorme sensibilidade) e dor latente na voz de André Travassos que provoca um profusão de sentimentos e emoções sonoras difíceis de libertar da pele.”. É isso que pretendem que resulte para o ouvinte? Fazem música a pensar nisso?
André: Das coisas mais bonitas de fazer arte é não ter o controle de como as pessoas irão absorver o seu trabalho. É muito bonito vê-las ressignificando à sua maneira nossas músicas. Então é meio difícil premeditar o que vamos fazer na tentativa de prever o que e como os ouvintes irão receber. Eu diria que a gente busca sempre ouvir o que a música e o momento pedem.
EM: O álbum “Thinking Out Loud” parece ter um conjunto de canções que se interligam e que são um objeto por si só. Houve essa preocupação de que o álbum contasse uma história em capítulos?
Na verdade não. Foi muito natural que tudo fosse assim. Mas ao mesmo tempo creio que algo maior conspirou para que esse encontro acontecesse e que essas músicas viessem a tona da forma linear como vieram!
EM: A propósito, qual consideras ser o «estado d’arte» da música feita atualmente no Brasil e no mundo?
André: É muito abrangente. Como vivemos na época da informação, por vezes eu penso que em muitos casos a música em si já não é mais a coisa mais importante para alguns artistas. E sim o comportamento, status, etc. Nós ainda somos românticos nesse sentido de acreditar no poder transformador da música.
EM: Que nomes colocavas no teu “Festival Ideal”? (Vivos ou não)
O meu festival ideal já existe e se chama Solid Sound. Nele existe um envolvimento real da comunidade, a curadoria é feita pela banda mais incrível da atualidade o Wilco, que ainda toca em todas as três noites em que ele acontece!
EM: Se tivesses que identificar os 5 melhores álbuns de sempre, qual era a tua escolha? E porquê?
André: Essas perguntas são impossíveis de responder. Mas os que me vieram a cabeça são:
Jeff Buckley – Grace
Wilco – Yankee Hotel Foxtrot
Egberto Gismonti – Circense
Milton Nascimento – Geraes
Bob Dylan – Blood on the Tracks
EM: Quais são os vossos planos para os próximos meses? Por onde irão andar? Para quando Portugal?
André: A gente tem uma série de shows marcados no Brasil e quatro na França em um breve passagem pela Europa. Mas para ano que vem gostaríamos de viabilizar uma turnê europeia maior e também gravar nosso terceiro álbum que ao que tudo indica já esta querendo vir ao mundo!
Obrigado André! Muito sucesso para os Moons!