Foto Colin Keller
Depois de, recentemente, termos ficado a conhecer melhor Cristina Branco e Surma, temos agora oportunidade de ficar a conhecer mais uma extraordinária artista: Mariana Secca (MARO). Mais do que uma compositora ou cantora, a melhor definição para MARO será provavelmente: é música!
Ao ouvi-la, somos imediatamente transportados para um mundo de pequenos detalhes de fino recorte, onde o bom gosto nos arranjos, se conjuga na perfeição com uma voz singular e uma capacidade interpretativa muito especial e única. MARO é uma pedra preciosa (não sendo de estranhar que grandes nomes da música portuguesa se tenham prontificado a cantar com esta jovem), que vive do que gosta, e que, no fundo, acaba por dar muito mais do que recebe. Fiquem a conhecê-la melhor:
EM: No passado não se vivia sem catalogar os artistas. Podemos dizer que MARO é “música do mundo”, na perspetiva de ser feita por uma cidadã do mundo e resultado da globalização?
MARO: Sim. Além de ser portuguesa e de ter já viajado e vivido fora, sempre ouvi muita música de cantos diferentes do mundo e isso ficou sempre comigo.
EM: Inevitável falar sobre a licenciatura na Berklee College of Music. Consideras que foi fundamental para desenvolveres o teu talento inato? A Berklee People [rubrica que MARO criou no Youtube de covers com a participação dos seus colegas da Berklee] foi a tua tentativa de “humanizar” e desconstruir um local certamente com um ambiente muito competitivo e provavelmente individualista?
MARO: A Berklee foi, sem dúvida, uma altura muito importante na minha vida a nível pessoal e musical. Além de poder ensaiar e tocar todas as semanas, o poder conhecer e tocar com pessoas de culturas tão diferentes da nossa, influencia também a nossa maneira de escrever e até sentir o que os outros escreveram. E foi daí, e para contrariar a competição que inevitavelmente se gera, que surgiu o Berklee People.
EM: Continuas a viver em Los Angeles? Vives atualmente exclusivamente da música? Como é um dia normal na tua vida atual?
MARO: Vivo em Los Angeles desde Fevereiro deste ano e, até agora, tenho conseguido viver exclusivamente da música. Nesta fase, os meus dias nunca seguem uma rotina predefinida e ainda ando muito à descoberta, mas trabalho nos meus temas, gravo para outros artistas, dou aulas, tento fazer desporto… Tento manter-me ocupada e produtiva.
EM: Algo que sobressai imediatamente ao te ouvir é a tua paixão da “música pela música” e a ausência de “formatação” ou construção para “vender”. É assim que te vês e queres que te vejam?
MARO: É, sem dúvida. A música, até como linguagem universal, tem a capacidade de ligar o mundo e de dar voz a muitos dos sentimentos que tantas vezes não conseguimos expressar. Eu quero que o meu trabalho seja parte dessa voz, de uma forma genuína e sentida.
Jorge Simão
EM: É inegável que o teu timbre e forma de interpretação são muito especiais e implicam um ouvido apurado. Consideras que o prazer que sentes será sempre maior que o peso de eventuais ouvidos menos esclarecidos, no sentido de não vires a fazer “cedências” por exemplo a editoras/produtores?
MARO: Sim. Nunca sei que notas vou cantar e mesmo quando sei, acaba por não ser igual ao que era suposto… o tema começa, eu desligo e vou com a música. Apesar de saber que, às vezes, as escolhas dos acordes ou melodias não são muito óbvias, também acredito que se foi realmente sentido, o ouvido de quem ouve sentirá também.
EM: Como foram (e surgiram) os duetos com alguns dos principais artistas portugueses? Está em preparação a publicação dos duetos completos? Sentes que entrar em Portugal dessa forma, por um lado, aumenta a responsabilidade e, por outro, pode, num país “pequenino nas mentalidades” levar a que muitos pensem que és uma privilegiada e membro das elites?
MARO: Em relação aos duetos, fui eu que escrevi diretamente aos artistas que, para minha sorte, já conheciam o meu trabalho e disseram que sim. A publicação de vídeos mais longos não está programada mas espero voltar a repetir a experiência em breve! Em relação ao que as pessoas pensam destes vídeos… não sei e também não saberei. Foram momentos bonitos de partilha onde nada mais interessou do que fazer música em conjunto. E espero que tenha sido essa a mensagem que passou para quem os viu.
EM: A propósito, qual consideras ser o «estado d’arte» da música feita em Portugal?
MARO: Estou felicíssima com o que se tem feito em Portugal. Sinto que a música, a nível nacional, tem sido mais valorizada e vejo vários artistas a mostrar trabalho com grande qualidade.
EM: Que nomes colocavas no teu “Festival Ideal”? (Vivos ou não)
MARO: Joni Mitchell, Rajery, Laura Mvula, Lianne La Havas, Milton Nascimento, John McLaughlin & Shakti, Punch Brothers, Tigran Hamasyan, Yellow Jackets, Nick Drake… a lista é comprida! Dizia mais 50. São vários os nomes que mudaram a minha vida e que adoraria ver ao vivo.
EM: Se tivesses que identificar os 5 melhores álbuns de sempre, qual era a tua escolha? E porquê?
MARO: Não consigo dar os 5 melhores. Posso dizer 5 que me marcaram a vários níveis mas há muitos outros…
Milton Nascimento – Clube da Esquina 1
Esperanza Spalding – Esperanza
Joni Mitchell – Song to a Seagull
João Afonso – Missangas
Rajery – Fanamby
… Tantos.
EM: Quais são os teus planos para os próximos meses? Por onde irás andar?
MARO: Até Dezembro fico por LA, a gravar novos projetos e a trabalhar para 2019. O resto quem sabe… está por definir!
Muito obrigado MARO!
Agradecimento especial: Catarina Holstein
Fotos MARO: Colin Keller e Jorge Simão