Falar de FLAK (João Pires de Campos) é falar da história da música Portuguesa. Para além de fundador dos Rádio Macau e distinto membro dos Palma’s Gang e Micro Audio Waves, tem uma longa e profícua carreira enquanto produtor. Recentemente lançou “Cidade Fantástica”, apenas o seu 2º álbum a solo, numa longa e intensa vida enquanto artista. Fiquem a conhecê-lo melhor.
EM: Percorrendo a sua «Cidade Fantástica», somos como que levados por entre becos góticos, reflexões sobre a contemporaneidade, pitadas de surrealismo. É assim o seu universo interior?
FLAK: Parece-me que sim. O Batman o Edgar Alan Poe o Magritte o André Breton e o Trump andam por ai. Já deixei de tentar compreender o mundo. Acho que a realidade é apenas uma projecção que eu posso manipular e tenho-me dado bem com isso.
EM: Este “manto branco” está entre as consequências dos excessos e os “estranhos dias levados em vão” da sociedade atual?
FLAK: O Strange Days dos Doors. É estranho morrer-se aos 26 anos e quando se fez tanto em tão pouco tempo. Depois o tempo começa a correr mais depressa. De resto estamos na época de De-volution como profetizavam os Devo . Vivemos tempo muito estranhos. Nunca tivemos tanta facilidade em comunicar mas é um diálogo de surdos.
EM: O Benjamim tem uma enorme influência na sonoridade deste álbum. Como surgiu essa parceria (que já não é de agora)?
FLAK: Surgiu da vontade de partilharmos ideias e experiências. Temos muito em comum em termos estéticos e o Benjamim é bom músico tem energia e personalidade. Foram tempos bem passados e criativos.
EM: Depois de um percurso tão cheio de momentos altos, primeiro nos Radio Macau, mas também por exemplo nos Micro Audio Waves ou Palma´s Gang, onde continua a ir buscar a “vontade da criação”?
FLAK: Sou como aqueles senhores com 90 anos que tem uma mercearia e teimam em não a fechar porque é isso que os mantem vivos. Agora a sério, acho que precisava de mais tempo do que aquele que tenho para por em prática tudo o que tenho vontade.
EM: Existe em si, mais de guitarrista, compositor/cantor ou produtor?
FLAK: Gosto de compor. As outras são uma consequência.
EM: Sendo um ouvinte atento do que se vai fazendo atualmente na música portuguesa, consegue identificar bandas que sejam como que filhos dos Radio Macau em termos de influências? Acha que o sucesso dos Radio Macau está datado e pertence a uma época específica e irrepetível ou pode voltar a existir?
FLAK: Acho que grande parte da música dos Rádio Macau é um segredo só para alguns. Mas nós também não temos tido o cuidado de a divulgar como deve de ser. Discos como a Marca Amarela ou o Disco Pirata não estão disponíveis nas plataformas digitais e são discos super interessantes.
EM: A propósito, qual considera ser o «estado d’arte» da música feita em Portugal?
FLAK: Nunca esteve tão bem. A quantidade a diversidade e a qualidade da música que se faz em Portugal é impressionante para um país tão pequeno. Tanto que às vezes se torna difícil a sobrevivência. Toca-se melhor mas ganha-se menos.
EM: Que nomes colocava no seu “Festival Ideal”? (Vivos ou não)
FLAK: Gostava de ter estado no festival de Jazz de Cascais quando veio cá o Miles Davis. Era muito novo.
Gostava de ter visto Jimi Hendrix. De resto prefiro ver coisas novas. Ser surpreendido.
EM: Se tivesse que identificar os 5 melhores álbuns de sempre, qual era a sua escolha? E porquê?
FLAK: Não existem cinco melhores álbuns em absoluto. Depende dos dias e do género para que estejamos virados mas ai vão cinco.
Beatles – Revolver
Velvet Underground – Velvet Underground
Pink Floyd – Piper Gates of Dawn
Steve Reich – Music for 18 Musicians
Astor Piazzolla – Tango: Zero Hour
Estão todos no top dos meus preferidos de sempre mas há muito mais.
EM: Quais são os seus planos para os próximos meses? Por onde irá andar?
FLAK: Tocar ao vivo em 2019 e preparar novas edições. Brevemente terei novidades.
Agradecimentos Especiais:
Obrigado Flak pela disponibilidade e longa carreira!
Raquel Lains (Let’s Start a Fire)
Foto Destaque: Vitorino Coragem